Alertas
Benzidamina: risco de morte e eventos adversos graves relacionados ao uso abusivo do medicamento.
Benzidamina: risco de morte e eventos adversos graves relacionados ao uso abusivo do medicamento.
22/07/2013
A Gerência de Farmacovigilância recebeu, recentemente, um relato de uso abusivo da substância benzidamina que quase causou a morte de um paciente. Em pesquisa ao banco de dados, outros casos de eventos adversos associados ao uso indevido do medicamento foram observados.
A benzidamina é um anti-inflamatório não hormonal que possui eficácia analgésica e anestésica local. O medicamento pertence à classe dos anti-inflamatórios primários, pois inibe os processos inflamatórios utilizando mais os mecanismos locais do que os mecanismos sistêmicos. O produto é indicado para o tratamento de estados inflamatórios, tumefações edematosas de origem cirúrgica, traumática ou inflamatória e como adjuvante no tratamento de dores musculares e articulares. Atualmente, o produto está registrado na Anvisa para uso sistêmico ou tópico.1,2
Diversos artigos sobre o uso abusivo da benzidamina foram publicados na literatura científica. Tais trabalhos relatam a utilização da substância com fins recreativos por jovens e adolescentes, já que o medicamento, em altas doses, pode provocar alucinações e alterações visuais. A ocorrência de tais efeitos pode ser atribuída a um aumento na produção de dopamina, um neurotransmissor cerebral que controla funções como memória e emoções. Dessa maneira, as experiências armazenadas na memória afetiva do individuo vêm à tona de maneira deformada, o que provoca a percepção alterada da realidade. Esgotado o estoque de dopamina, o indivíduo deixa de sentir euforia e prazer, ficando cansado, sonolento e irritadiço. No dia seguinte, sente tonturas, fortes dores de estômago e falta de apetite 2-7.
Eventos como gastrite, úlcera, convulsões, falência renal, agranulocitose, pancitopenia e coagulopatia estão associados à superdosagem de benzidamina e de outros anti-inflamatórios não esteroidais 6,7.
De acordo com informações que constam na bula, o medicamento é contraindicado aos pacientes nas seguintes condições: hipersensibilidade aos componentes da fórmula, disfunções renais e hepáticas graves e primeiro trimestre de gravidez. Além disso, o uso da benzidamina não deve ser associado à ingestão de bebidas alcóolicas1.
A Anvisa alerta, portanto, para o uso indevido da substância benzidamina e reforça a necessidade da promoção do uso seguro e racional de medicamentos, solicitando aos profissionais de saúde que notifiquem especialmente as suspeitas de reações adversas graves[1] e os casos de uso abusivo da benzidamina e de qualquer medicamento por meio do sistema NOTIVISA, disponível em http://www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/index.htm.
Referências Bibliográficas:
1. Bula do medicamento Benflogin® (cloridrato de benzidamina). Aché Laboratórios Farmacêuticos S.A. Farmacêutico Responsável: Dr. Wilson R. Farias, CRF-SP nº 9555. Indústria Brasileira.
2. Mota DA, Costa AA, Teixeira CS, Bastos AA, Dias MF. Uso abusivo de benzidamina no Brasil: uma abordagem em farmacovigilância. Ciênc. saúde colet. 2010;15(3):717-24.
3. Ballesteros S, Ramón MF, Martinéz-Arrieta R. Ingestions of benzydamine-containing vaginal preparations. Clin Toxicol. 2009;47(2):145-9.
4. Opaleye ES, Sanches ZM, Moura YG, Locatelli DP, Noto AR. An anti-inflammatory as a recreational drug in Brazil. Addiction. 2011;106(1):225.
5. Schifano F, Corazza O, Marchi A, Di Melchiorre G, Sferrazza, et al. Analysis of online reports on the potential misuse of benzidamine. Riv Psichiatr. 2013;48(3):182-6.
6. Gómez-López L, Hernández-Rodríguez J, Pou J, Nogué S. Acute overdose due to benzydamine. Hum Exp Toxicol. 1999;18(7):471-3.
7. Saldanha VB, Plein FAZ, Jornada LK. Uso não médico de benzidamina: relato de caso. J bras psiquiatr. 1993; 42(9):503-5.
[1] Reações adversas graves: óbito; ameaça à vida; hospitalização ou prolongamento de hospitalização já existente; incapacidade significativa ou persistente; anomalia congênita ou evento clinicamente significante (intervenção médica com a finalidade de evitar óbito, risco à vida, incapacidade ou hospitalização).